terça-feira, 5 de novembro de 2013

Poemas Africanos



Poemas de AMÉLIA DALOMBA

A Canção do silêncio

A canção do silêncio é um poema ao suspiro
Mergulhado
Na profundeza do Índigo

O olhar de uma santa de barro

A linha do equador à deriva do pensamento
Gelo e sal e larva e mel

A canção do silêncio

Na milésima de tempo

A inversão do mundo nos cabelos do infinito
Uma lua apagada de prazer
A razão é um jardim florido pela ilusão
Na milésima de tempo de uma entrega

Frases feitas

Difícil é cantar comum pensamento
Sombras em frases feitas onde nada é tão antigo
Como chegar e partir


        Poemas de AGOSTINHO NETO
       

 O CHORO DE ÁFRICA
 
O choro durante séculos
nos seus olhos traidores pela servidão dos homens
no desejo alimentado entre ambições de lufadas românticas
nos batuques choro de África
nos sorrisos choro de África
nos sarcasmos no trabalho choro de África

Sempre o choro mesmo na vossa alegria imortal
meu irmão Nguxi e amigo Mussunda
no círculo das violências
mesmo na magia poderosa da terra
e da vida jorrante das fontes e de toda a parte e de todas as almas
e das hemorragias dos ritmos das feridas de África

e mesmo na morte do sangue ao contato com o chão
mesmo no florir aromatizado da floresta
mesmo na folha
no fruto
na agilidade da zebra
na secura do deserto
na harmonia das correntes ou no sossego dos lagos
mesmo na beleza do trabalho construtivo dos homens

o choro de séculos
inventado na servidão
em historias de dramas negros almas brancas preguiças
e espíritos infantis de África
as mentiras choros verdadeiros nas suas bocas

o choro de séculos
onde a verdade violentada se estiola no circulo de ferro
da desonesta forca
sacrificadora dos corpos cadaverizados
inimiga da vida

fechada em estreitos cérebros de maquinas de contar
na violência
na violência
na violência

O choro de África e' um sintoma

Nos temos em nossas mãos outras vidas e alegrias
desmentidas nos lamentos falsos de suas bocas - por nós!
E amor
e os olhos secos.
  

 

CRIAR

Criar criar
criar no espírito criar no músculo criar no nervo
criar no homem criar na massa
criar
criar com os olhos secos

Criar criar
sobre a profanação da floresta
sobre a fortaleza impudica do chicote
criar sobre o perfume dos troncos serrados
criar
criar com os olhos secos

Criar criar
gargalhadas sobre o escárnio da palmatória
coragem nas pontas das botas do roceiro
força no esfrangalhado das portas violentadas
firmeza no vermelho-sangue da insegurança
criar
criar com os olhos secos

Criar criar
estrelas sobre o camartelo guerreiro
paz sobre o choro das crianças
paz sobre o suor sobre a lágrima do contrato
paz sobre o ódio
criar
criar paz com os olhos secos.
Criar criar
criar liberdade nas estradas escravas
algemas de amor nos caminhos paganizados do amor

sons festivos sobre o balanceio dos corpos em forcas
                                                          [simuladas

criar
criar amor com os olhos secos.

Os mortos perguntam

nos rumos perdidos dos ventos trocados,
todos os rumos,
nos fumos das piras dos mortos cremados,
todos os fumos,
de todas as piras...
nas iras dos mares
que beberam sangue
todas as iras...
na ânsia enlutada de todos os lares
vazios de esperança
todas as ânsias
de todos os lares...
nos sexos sangrentos das virgens violadas
os farrapos
a sangrar
de todos os sonhos que homens sonharam
e homens violaram...
em todas as dores dos vivos da terra
todas as dores dos mortos da guerra...
e os rumos perdidos
e os corpos ardidos,
e as iras inúteis,
e as ânsias caladas,
e os sonhos, sujos como vidas de virgens violadas,
e todas as dores
de todos os mortos que a guerra matou,
e todos os lutos
de todos os vivos
que a guerra enlutou,
perguntam,
perguntam,
perguntam
a todos os ventos
a todos os mares
às roupas de luto de todos os lares,
se valeu a pena...
... os mortos perguntam...
mas os ventos trocam-se,
o mar não serena,
as viúvas continuam a chorar,
e os mortos não param de perguntar
se valeu a pena...
... mas a esperança é longa
e bela de agarrar no fundo dos martírios...
os mortos perguntam,
os mortos protestam...
... irmãos, os braços são magros,
mas longos,
longos da ânsia de querer...
...a pergunta é grande e a força é pequena,
mas só nós podemos, irmãos, responder,
se valeu a pena...

António Neto





alunas: mayra ,larissa, rafaela, ariana, nathalia e luma 
                                                   

Nenhum comentário:

Postar um comentário